quarta-feira, 5 de maio de 2010

Devaneios

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Não me causava falta: esse alguém que na tríplice exasperação do ser se deixou levar pela covardia ou pela coragem de beijar o não-viver entre homens. Estava o mártir segurando a medalha mais pesada que a liberdade, ou o vento livre. Era a liberdade de que outrora me disseram não ser possível comunicar em livro, mas em notas suaves de violoncelo tocado baixinho numa arritmia sensível e alegre. Só se ouve distraidamente. Como se querendo corromper uma metade de outra. Como se querendo disfarçar ou elevar sons... Como se querendo tudo de uma única e desesperada vez. Faço a transposição dessa liberdade, que mesmo caindo na modéstia da palavra, artifício fraco perante o sentimento, torna-se uma tentativa ridícula de salvar alguém. A palavra, quando dita com amor, salva e recompõe.

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Penso que nasci para ser transformado em algo e ser livre para prender você, porque só consegue prender quem é completamente livre. E nesta falsa liberdade minha cabeça muito alta pensa na exata solidão, distante de qualquer beleza. Recebo tua caridade com certa obstinação, pois de orgulho evasivo viverá o homem pela face da Terra. Receber é dar amor. A solidão é amor rejeitado, uma mulher invisível na janela.

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