quarta-feira, 5 de maio de 2010

Devaneios II

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Ao meu amor devo a alegria de começar a me ter como gente. Eu não era gente antes de encontrá-lo. Eu era uma espécie de culpado. Hoje sou uma espécie de juiz, o que não deixa de ser tão doloroso.

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O meu caminho está na reticência das minhas orgias tão santas. De erros, há milênios, não consigo me desvencilhar. Eles se contiveram a provir da virgindade, esses meus erros. De uma virgindade de espírito seco e semimorto, eu surjo para revelar que me disseram que eu nada sei. Estando em meu dia de aprovação saí reprovado em juízo perante outros errantes. Minha língua se prendeu ao céu da boca, eu não soube defender a tese que foi minha própria vida, desbotada em míseras folhas sem referência bibliográfica.

E não quiseram investir em mim depois de meu fracasso. Das minhas notas variantes zombaram e nos meus olhos não foram capazes de olhar. A excelência? Talvez uma palavra que eu poria como meu inexistente referencial técnico.

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Agora eu sinto uma raiva tão sincera que me dói profundamente o peito. Quando se descobre que não há nada para se fazer. Quando se descobre que não há o que denominamos de liberdade. A descoberta mais dolorosa é ter noção de que liberdade não existe.

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